Antes de começarmos a falar sobre o que interessa, preciso ressaltar a qualidade, o cuidado e a delicadeza das produções do sistema de streaming da Hulu. Portanto, vamos ao que interessa. Little Fires Everywhere, é uma minissérie que traz Reese Witherspoon (The Morning Show) e Kerry Washington (Scandal) como protagonistas que, consequentemente, brilham em seus papeis. Se juntando a um elenco exemplar que não tem defeitos.
A minissérie é baseada em um livro de mesmo nome e conta a história de duas famílias, a de Elena Richardson (Reese Witherspoon) e a de Mia Warren (Kerry Washington) que vivem em contextos sociais, econômicos e raciais diferentes. Entretanto, em um determinado momento, a história das duas acabam se cruzando.
Little Fires Everywhere explora o peso dos segredos, nos apresenta a natureza da arte e da identidade. Expõe a atração feroz da maternidade e o perigo de se acreditar que seguir, sempre, as regras pode evitar desastres.
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A série busca sempre mostrar as duas faces de uma mesma situação. Onde podemos observar e julgar como a sociedade se porta diante das mesmas. De forma dura e necessária podemos enxergar o quão as pessoas são incoerentes em seus discursos e que apenas vivem em um mundo de aparências e de conveniências.
A maternidade é algo presente em diversos filmes e séries mais poucas abordam a complexidade que de fato é. O embelezamento ou a degradação total da maternidade é usada sem meios termos, mas aqui temos uma construção, onde o desejo e a falta dele é construído mutuamente e o que pode acarretar com essa dualidade de sentimentos.
Amar, projetar, se espelhar, desejar ou não um filho é algo bastante complexo. Entretanto, como os pais têm que se portar diante desses desejos, pode criar rupturas que muitas vezes não são visíveis e que podem gerar grandes problemas. Little Fires Everywhere traz essas projeções e suas consequências de forma gradativas em alguns personagens e em outros, escancarados.
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Os filhos e suas percepções com os pais é um tema bem discutido no show. A produção nos demonstra que certas cobranças e atitudes, podem trazer prejuízos irreparáveis para as crianças.
Um exemplo claro, é Izzy (Megan Stott), que com sua personalidade, destoa dos demais irmãos e consequentemente dos ideais projetados por sua mãe Elena. Izzy é um dos personagens mais complexos e cheios de camada da série, onde possui falas importantes. Contudo, é a única do núcleo rico/ branco que consegue enxergar o mundo hipócrita em que vive, inclusive sua família.
Além de temas atuais e pertinentes, um dos pontos mais fortes da série é a questão do racismo e como ele é mostrado. Um racismo camuflado, em uma sociedade que si diz não ser racista e que convive de igual para igual com negros. Mas, que em seu dia a dia, o discurso não combina com as as ações.
No momento em que estamos vivendo, trazer este tema é sempre bem-vindo e preciso. Pois as pessoas se pautam em falas rasas e militâncias virtuais em busca de likes e para não ser taxado de racista. Mas, na verdade, são falas e ações veladas, que apenas servem para camuflar um racismo impregnado e enraizado.
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A série traz esse racismo em vários momentos e em diversas formas, para que possamos entender que as vezes, em uma pequena fala ou gesto estamos praticando o racismo. Não é porque você convive com negros e diz que não compactua com o racismo que você não é racista.
E apesar de ser uma série que se passa no final dos anos 90, ela consegue trazer temas que infelizmente são atemporais, que permeiam por gerações.
Little Fires Everywhere é uma série narrada por histórias femininas, com protagonismo feminino, e essa observação é importante. Pois além dos temas abordados, a luta feminina e as suas provações diante da sociedade é algo pulsante até hoje. Contudo, uma série desse porte não poderia deixar de ter em seu protagonismo mulheres, que mesmo com seus erros e acertos precisam se provar constantemente para se colocarem diante de uma sociedade machista, preconceituosa, racista e desigual.
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A construção dos Flashbacks são excelentes. A série nos apresenta pequenas peças de um determinado personagem, até chegar no real episódio em questão. Então temos a junção de todas essas peças, interligando uns aos outros em um mesmo período, chegando ao verdadeiro momento em que a série se passa.
O que não me agradou muito na construção narrativa de Little Fires Everywhere, foi quando somos apresentados à história da gravidez de Mia. Achei meio abrupta, e enganosa em certos momentos, onde as cenas vão te levando a pensar uma coisa e no fim é outra. portanto, o desenrolar foi muito rápido e sem muito desenvolvimento, gostaria que tivesse um pouco mais de embate e conflito. Tirando isso, uma verdadeira obra-prima.
Em suma, acredito que essa minha observação, venha pelo fato de ter gostado bastante do show, que queria mais tempo com ele em frente a televisão.
A produção da Hulu está disponível no Amazon Prime Vídeo.