Uma das estrelas do Brasil, que soube usar seu prestígio e poder na mídia para ajudar e dar voz a quem não tinha e que será alvo da nossa crítica, Hebe a série, não está no arquivo confidencial do Faustão mas está no nosso “Assistimos! E ai?” de hoje.
A produção da Globoplay conta com dez episódios de, aproximadamente, cinquenta minutos. Tem como objetivo contar a história de vida de uma das maiores comunicadoras que o Brasil já teve.
Antes de irmos ao que interessa, precisamos exaltar Andréa Beltrão que interpretou muitíssimo bem uma pessoa única e incomparável. Juro que a principio não achava que a atriz fosse ficar tão parecida com a apresentadora, mas confesso que em muitos momentos era como enxergar Hebe na tela.
A HISTÓRIA
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A história não é linear, fica transitando em momentos e com isso vamos montando o quebra cabeça da vida de Hebe até chegar aos seus últimos dias de vida. Essas idas e vindas que a série faz, no começo serve para você se situar no atual momento de cada ato. Isso pois, temos outra atriz no papel da jovem Hebe, Valentina Herszage. Entretanto, quando Andrea entra e cena, fica um pouco confuso e você precisa fazer um esforço para distinguir em que momento estamos na série. A produção usou filtros para diferenciar as linhas temporais da história. No entanto, o recurso falhava em alguns momentos, não passando a compreensão que se era necessária, o tornando desnecessário.
A atriz Valentina Herszage melhora com o tempo. Em suas primeiras cenas, me incomodei um pouco com sua interpretação, mas como eu disse, ela vai crescendo conforme seu personagem assim o faz. No fim ela nos entrega uma personagem forte e frágil ao mesmo tempo, com nuances de personalidades e na hora de cantar, sua interpretação complementava e ficava perfeita. (Não sei se a atriz dublava ou se era ela mesma cantando, mas preciso dar os meus parabéns para a voz, sendo de Valentina ou não).
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Na fase adolescente de Hebe, não senti um cuidado em desenvolver a parte familiar da apresentadora. Em uma cena aparecem seus pais e irmãos, (apenas para dizer que eles existem). Depois os irmãos somem e só os pais aparecem, mas a relação deles com Hebe também é meio superficial. Até mesmo a ligação e a amizade da protagonista com seu pai é demonstrado de forma abrupta sem uma construção. Só percebemos isso quando ela conversa com ele sobre seu namoro e já ter tido relações sexuais com ele, onde momentos antes sua mãe tinha lhe questionado sobre o assunto e ela havia negado.
Acho que etapas como essas precisam ser inseridas de formas sutis e ao decorrer da história e não ser jogada apenas em alguns minutos de cenas. Resolveu, foi entendido, mas deveria ser mais elaborada.
Uma vida extensa e cheia de conteúdo deve ser difícil resumir em uma série de temporada única. Entretanto, já que se escolhe abordar dessa maneira é preciso desenvolver e trazer uma linha narrativa. Para que quem assista, compreenda e não ache que foi algo tão simples ou superficial como aparenta.
caracterizações
Outro ponto que em momentos acertavam e outros erravam e feio, foi as caracterizações de personagens que estão presentes em nossos imaginários e que são seres únicos como pessoas.
A caracterização de Jô Soares (Heitor Goldflus) é uma das que mais me decepcionou. Onde, tanto na escolha do ator quanto nos trejeitos do apresentador ficaram a desejar. Jô é um ser emblemático na cultura brasileira, com sua voz inconfundível, e com um jeito único de apresentar. No entanto, tivemos apenas um ator que não se esforçou nem um pouco para ser parecido, nem que fosse a voz.
Marília Gabriela (Fabiana Gugli) até tentou trazer a voz da apresentadora, algo inconfundível, mas infelizmente não conseguiu. Aqui também, a escolha da atriz, que em nada se assemelha a apresentadora, foi um equivoco.
(Uma opinião: Acho que poderiam muito bem usar essas pessoal para se auto interpretarem, pois trariam uma veracidade melhor.)
acertos
Apesar de pequemos deslizes destaco a cenografia e a ambientações estão simplesmente perfeitas. Sem falar que contamos com um elenco exemplar, onde vemos que não temos tempo para erros. A produção traz nomes já consagrados do cinema e da TV com poucos rostos desconhecidos, e que arrasam em seus papeis.
Daniel de Oliveira (Luis Ramos), Gabriel Braga Nunes (Décio Capuano) e Marco Ricca (Lélio Ravagnani), estão perfeitamente em seus papeis.
Como Hebe é uma das precursoras da televisão é interessante ver esse processo da chegada e de suas evoluções. Importante salientar como nos primórdios (não que hoje não seja) a política era muito latente na condição dos programas. Controlando a forma de gerir as emissoras, podemos ver esse tempo obscuro e conseguimos enxergar o quanto evoluímos é muito bacana (triste ver pessoas que acham uma boa a volta daquela época).
A série trabalha com a missão de engrandecer a Hebe. Mostrando que mesmo nos momento difíceis ela buscava a alegria e que sempre lutou para conseguir seus objetivos, mesmo quando parecia estar tudo perdido.
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Hebe era uma mulher a frente de seu tempo, que não baixava cabeça para ninguém e que fazia questão de conseguir tudo com o suor de seu trabalho e não queria nada além do que fosse seu por direito.
Falar de Hebe é falar de emissoras e emissoras significam citar as concorrentes de quem está produzindo a série. Entretanto, achei que o Globoplay (Rede Globo), foi honesta e citou com respeito todas as emissoras que foram citadas, inclusive nos momentos em que a protagonista criticava arduamente a plim plim.
observações finais
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A série serve como uma forma de mostrar que os artistas não são 100% o que demonstram ser na frente das câmeras. Hebe Camargo era sim uma mulher forte, guerreira, que venceu na vida através de seu suor e de sua garra, uma mulher além do seu tempo. Entretanto, tinha uma vida complicada, onde todos os seus amores foram marcados por infidelidades, ciúmes e cobranças, não tendo sempre momentos de felicidades mesmo sendo rica ou amada por todo o Brasil.
A produção é perfeita na construção da imagem da apresentadora, buscando sempre abordar com cuidado os temas para que exaltasse a bondade, a luta e a pessoa que Hebe foi.
Hebe nos mostra também um país podre em todos os âmbitos, onde o glamour da TV não era tão glamouroso e que muitas vezes era duro e sem piedade. As mulheres que lutavam para ser independentes eram taxadas pelos piores adjetivos, mas que felizmente o tempo passou, o mundo se atualizou e a mulher ganhou seu espaço e Hebe contribuiu muito para essa virada em nossa sociedade (Ainda precisamos crescer muito nesse quesito, mas nosso avanço comparado com aquela época é gritante).
Em suma, o show é uma boa pedida para entender como uma mulher do interior se tornou cantora, apresentadora e que mesmo não estando na maior rede de televisão do Brasil conseguiu se sobressair e se tornar uma personalidade onipresente e lembrada por seus feitos e não por seus defeitos.