No dia 05 de novembro de 2019 a Netflix liberou a segunda temporada de The End of the F***ing World, série britânica de 2017.
Iniciando, ainda com o mistério do final da primeira temporada, onde James corre da polícia pela praia e a tela fica preta e escutamos um tiro e não sabemos o que aconteceu, a cronologia da série se passa a exatos dois anos da nossa espera agoniante e somente no segundo episódio descobrimos o que de fato ocorreu.
Trabalhando com momentos de flashback e o presente, TEOTFW, acrescenta uma nova personagem Bonnie, perfeitamente interpretada por Naomi Ackie, que traz uma pessoa maltratada psicologicamente desde criança, onde tinha que ser perfeita se não sofria graves consequências de sua própria mãe, mulher autoritária e intimidadora que faz com que sua pai as abandonasse por seu gene agressivo e manipulador.
No segundo ano podemos ter um vislumbre maior do personagem do ator Jonathan Aris, o Dr. Clive Koch, onde descobrimos como ele fazia suas vítimas até chegar em sua morte na primeira temporada, tornando-se a motivação de Bonnie na série.
Os atores principais, são o DNA da série, onde não imaginária outros artistas os interpretando. Alex Lawther como James, consegue passar apenas em expressões o que seu personagem quer dizer. Ele é meio “bocó”, psicopata, esquizofrênico e ainda assim conseguimos criar empatia e torcemos para que nada de ruim possa acontecer com ele. Já Jessica Barden, a Alyssa, merece palmas por sua interpretação. Construindo uma aprendiz fajuta de psicopata, onde tenta se passar por durona e que não liga para os sentimentos alheios, consegue expressar tudo isso em suas cara e bocas. Mau humorada, ácida e sarcástica, Alyssa cativa de uma forma que não sei explicar.
Um dos pontos altos, na minha opinião, é a locução feita em toda a série. Ela serve como a voz subconsciente dos personagens, que ao falar dizem o que não estão sentindo de fato.
TEOTFW é uma série que fala dos nossos sentimentos e o quanto sofremos quando omitimos ou apenas resolvemos ignorar o que realmente queremos. A adolescência é um momento muito louco, momento de descobertas, aprendizados, frustrações amorosas, brigas familiares por divergências de opiniões, falta de compreensão para com os pais e achar que sempre estão certo, pode ser um momento de turbulência que muitos não suportam e acabam metendo os pés pelas mãos.
A série nos mostra que pensamos ser fortes o suficiente para suportar as coisas sozinhos e não compartilhar com aqueles que estão ali para nos apoiar e nos guiar para o caminho certo, mas, ás vezes, pelo fato de o problema estar dentro de casa, torna essa busca um pouco mais difícil.
Nesta segunda temporada, podemos ver que os três personagens principais, possuem algo em comum, a compreensão do que de fato é o amor e porque esse tal de amor pode ser tão violento ou incompreendido, cada um a seu modo. A compreensão só será plena, quando dermos espaço para novos olhares.
Nossos traumas por míseros que sejam, se não for cuidado corretamente ou enfrentados de cabeça erguida, pode se tornar uma arma engatilhada, pronta para disparar a qualquer momento.
Além de sua construção e narrativa perfeita, a fotografia e seus enquadramentos são de uma maestria, que acrescenta e muito no conjunto final da obra. Com planos simétricos, compostos como uma obra renascentista, embelezam a tela com um toque refinado.
The End Of The F***ing World é um achado da Netflix, que muito além de uma série estranha, com personagens estranhos, com vidas estranhas, vivendo em uma cidade estranha, é uma série que, se vista corretamente, pode te surpreender positivamente e lhe apresentar uma visão da cabeça de um jovem que não sabe lidar com seus sentimento e por isso, pensa ser um psicopata.