O segundo ano de Heartstopper melhorou o que já era bom e trouxe mais destaques para alguns personagens que mostraram potencial na primeira temporada. Com uma boa direção e atuações, a série soube trabalhar as histórias secundárias, dando espaço para que as histórias fossem exploradas da forma adequada.
Focando nos sentimentos e as consequências que esses sentimentos podem trazer, Heartstopper soube ser delicada, didática e precisa em seus temas abordados.
A relação Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor) ganhou dimensões importantíssimas, bem mais profundas e conflituosas. Em certo momento comecei a sentir a relação dos dois meio que tóxica. Charlie com sua entrega na relação, se privando de seus sentimentos para que Nick não se sentisse acuado, discriminado e que não passassem pelo que passou ao se assumirem. Isso me incomodou, mas entendi que esse incômodo foi proposital ou será que não?
VOU PROBLEMATIZAR UM POUCO
A série traz em Nick e Charlie a personificação do amor ideal, da fofura e da delicadeza, onde os dois não possuem conflitos (no sentido problemático da palavra), fazendo com que certos momentos passem despercebidos diante dos olhos do público.
Em contraponto, a relação de Charlie e Ben (Sebastian Croft) era problemática, tóxica, abusiva, onde Charlie vivia submisso aos desejos e as vontades de Ben. Além de tratá-lo mal na frente das pessoas, Ben escondia que existia uma relação entre eles, só o procurava quando estava só e entre outras coisas.
Apesar de Nick e Charlie serem carinhosos e assumirem para alguns amigos que eles eram um casal, Nick colocava Charlie na mesma situação que Ben o colocava, só que sem os revéis da antiga relação.
Charlie por diversas vezes demonstrava incômodo diante das negativas de seu parceiro, e das desculpas que dava quando não conseguia se assumir. Além de Nick sempre jogar a responsabilidade de suas escolhas nas costas de Charlie como forma de aliviar a sua falta de coragem. Muitos dos momentos de coragem de Nick foram no susto ou dependendo de uma pressão externa.
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Acredito que a série serve também para nos mostrar, que a toxicidade não é exclusiva de pessoas ruins, mas que muitas vezes todos nós podemos também estar praticando de forma inconsciente, sem saber.
No entanto, acrescento que a questão de se assumir ou não, só cabe a pessoa, onde cada um tem seu tempo, seu momento e sua hora. Não temos o direito de tirar ninguém do armário.
Contudo, Heartstopper 2 consegue ser bastante competente na transmissão dos sentimentos que ela quer passar, conseguindo fazer com que a gente sinta os sentimentos dos personagens e absorva aquela energia pra gente.
EM TODO MOMENTO EU ME COLOQUEI NO LUGAR DO CHARLEI
O ator Joe Locke que por sinal está simplesmente perfeito em seu papel. Não só ele, mas como todo elenco, onde temos uma sintonia e uma química que ajuda bastante na identificação com cada personagem.
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Como disse, a série trabalhou muito sobre as consequências dos sentimentos, tanto os bons quanto os ruins, dentre eles vemos: O bullying e suas consequências, amizade vs paixão, assexualidade, não aceitação dos pais, arrependimento, insegurança, descoberta e desejos.
A série soube conduzir esse sentimentos, trazendo seus gatilhos de formas amenas e muitas vezes imperceptíveis, até chegar em seu ápice.
ENFIM…
Em suma, Heartstopper 2 consegue ser doce e amarga ao mesmo tempo. Camuflada no enredo de uma comédia romântica adolescente, a produção traz uma história traumática e dolorosa. A série consegue nos mostrar as feridas que uma sociedade preconceituosa e homofóbica deixa nos envolvidos.
Mais que uma série gay, Heartstopper é uma aula de como o preceito, a homofobia, o bullying pode destruir uma pessoa. Como essas consequências podem perdurar por muito tempo e que talvez nunca se curem. Mas também ensina que o amor e a amizade podem ser a chave para a cura. Estar em um ambiente saudável e acolhedor, pode ser fundamental para que se consiga vencer e continuar.
Heartstopper 2 , tem oito episódios e está disponível na Netflix. Assistam!